A IMPORTÂNCIA DO SUBCONSCIENTE NA HIPNOSE CLÍNICA
Por Maíra Manzano
Produtora de conteúdo, professora e mestre em educação.
Uma sessão de hipnose clínica sempre se inicia com um relaxamento, um momento para a pessoa respirar fundo, aquietar as agitações do trânsito, do trabalho, dos problemas e acalmar a mente.
Esse é o primeiro passo para o terapeuta ter um encontro com o subconsciente de seu cliente. Mas não se engane, você não vai pegar no sono com esse relaxamento.
Mas por que é necessário conversar com o subconsciente de uma pessoa na hipnose? Por que a conversa não é com a pessoa consciente, como em uma terapia normal?
Veja bem, numa sessão de hipnose, você está completamente consciente, como numa terapia. Mas a diferença é como você vai receber as orientações do terapeuta. Isso tem a ver com a diferença da mente consciente e mente subconsciente.
Falando assim parecem duas coisas completamente diferentes, não é? Mas não são. O subconsciente e o consciente são estados diferentes da mente.
Vamos ver rapidamente quais são as características desses dois estados e logo você vai perceber, porque o subconsciente é essencial nas sessões de hipnose clínica.
UM CÉREBRO, DOIS COMPORTAMENTOS: O CONSCIENTE E O SUBCONSCIENTE
PENSO, LOGO EXISTO: A MENTE CONSCIENTE
Preciso passar no mercado para comprar iogurte, banana e uma castanhas para o lanche de amanhã. Foco na dieta!
Todos nós temos um tipo de pensamento parecido com esse várias vezes ao dia, não é? E nesse exemplo, usamos as habilidades de nossa mente consciente.
Evocamos a memória de curta duração, para lembrar que acabaram os ingredientes para o meu lanche em casa. Racionalizamos as opções, os “porquês” envolvidos, e tomamos uma decisão: vou ao supermercado!
Tudo muito racional, muito bem pensado, sob controle da sua mente consciente.
Estamos sempre fazendo escolhas: sair da cama, pegar uma blusa de frio para sair, levar o lixo para fora antes de sair para o trabalho… são sempre escolhas.
Agora, já aconteceu com você, de sair dirigindo do seu trabalho, chegar em casa, mas não se lembrar de ter percorrido o caminho? Você fez várias escolhas, parar no sinal fechado, virar à direita, trocar a marcha…
Quando não é a mente consciente que faz a escolhe, alguém o faz, de forma automática. E quem fez as escolhas, se não foi a sua mente consciente?
Exatamente… foi a sua mente subconsciente.
SINTO, LOGO SOU! A MENTE SUBCONSCIENTE
Se você pensar nas milhares de escolhas que faz no seu dia-a-dia, vai perceber que a maioria delas é automática, ou seja, você acha que está consciente de tudo, mas 95% da nossa mente, das nossas escolhas, está relacionada ao nosso subconsciente.
Veja, quando você chega numa reunião de trabalho, você escolhe conscientemente todas as palavras? Pode escolher usar algumas expressões que vão causar impacto, mas a maioria das palavras simplesmente aparecem, certo? Mas elas foram de certa forma “escolhidas”, você só não tinha consciência disso.
Mas como a mente subconsciente pode fazer escolhas por você?
Cada experiência vivida, cada conhecimento aprendido será gravado na sua mente subconsciente como se fossem programas instalados no seu computador. Lembre-se dessa analogia, ela será importante para entendermos a relação entre a hipnose clínica e a mente subconsciente.
Didaticamente, nós podemos dizer que existem diferentes “tipos” de memória que ficam armazenadas em nosso subconsciente. Quando elas são necessárias, elas são trazidas à consciência.
A memória explícita é aquela que podemos buscar de forma consciente. Lembramos de eventos, como os almoços de domingo na casa da vó, e também lembramos de dados, informações como as pessoas que visitavam o mesmo lugar, a organização da mobília…
Quando você precisa de uma informação – qual era mesmo o nome daquele peixe que a vó fazia? – é nesse arquivo que as informações serão buscadas. Quanto mais você acessa a informação, mais fácil fica encontrá-la. Quanto menos você usa, maior a chance de esquecimento.
O outro tipo de memória que é evocada “no automático”, sem termos consciência, e por isso, é chamada de memória implícita. Sabe aquela história, quem aprende andar de bicicleta nunca esquece? Esse é um tipo de memória implícita. Simplesmente começamos a pedalar, mesmo após 15 anos sem subir numa bicicleta.
A memória implícita também registra comportamentos aprendidos por associação. Se você teve uma experiência negativa com cachorro, a cada latido que ouvir, vai sentir a mesma sensação de medo, mesmo estando a frente de uma fofura de um pug com suas dobrinhas encantadoras.
Esse comportamento (sensação de medo) foi aprendido (registrado) pela sua mente subconsciente e será a sua resposta automática toda vez que o estímulo (latido) acontecer.
Nenhuma argumentação racional (mas ele é tão fofinho….) é capaz de transformar a associação que foi feita na mente subconsciente. Isso porque esse tipo de memória é mais difícil de ser alterada. Ela é mais inflexível.
Voltando a nossa analogia com os computadores, o nosso comportamento (inclui também nossos padrões de pensamento, tá) são os programas que estão instalados no nosso hardware (subconsciente). Para mudar o comportamento, precisamos “desinstalar” esse programa e substituí-lo por um novo.
REPROGRAMANDO A MENTE SUBCONSCIENTE COM A HIPNOSE CLÍNICA
· Eu começo uma nova atividade com tanta motivação, mas quase sempre abandono antes de alcançar o objetivo.
· Eu não entendo porque só me interesso por pessoas complicadas.
· Comecei a ter sensação de pânico com elevadores, mas não aconteceu nada demais. Eu paraliso na frente do elevador, apesar de não haver razão lógica para isso.
· Eu quero ter uma vida mais saudável (dieta/exercícios) mas eu não consigo manter a rotina mais que um mês.
Você se reconhece em frases parecidas com essas? Reconhece algum amigo, ou familiar próximo?
Veja que, conscientemente, nossos exemplos fazem uma escolha. Eles têm um objetivo e uma série de argumentos racionais para fazer essa escolha e, mesmo assim, não perseveram.
Mas, por quê? Existem razões subconscientes, programações mentais subconscientes que estão interferindo diretamente em um desejo ou intenção consciente.
Vamos escolher a pessoa da última frase para “seguir” por um tempo. Ela se programa para ir à academia depois do serviço três vezes na semana.
Na primeira semana ela vai os 3 dias, se sente mais disposta e está orgulhosa de si. Está tudo indo muito bem, e ela tem certeza que desta vez será diferente.
Na segunda semana, não deu para ir na sexta-feira, por que os amigos marcaram um happy hour, mas “foi só um dia, né?. Semana que vem eu volto com tudo!”.
Na terceira e na quarta semana, essa pessoa teve imprevistos no trabalho e foi só um dia na academia. Na outra semana estava chovendo muito… Por fim, depois de dois meses, nosso exemplo parou de fazer as atividades físicas que ela estava tão motivada e confiante.
O que será que aconteceu? Quais serão os “programas mentais” que estão interferindo nas escolhas dessa pessoa.
As técnicas utilizadas na hipnose clínica vão buscar identificar a qual situação um determinado comportamento está associado e, através da ressignificação desse momento, possibilitar o desenvolvimento de uma nova resposta. Por isso, “conversar” com o subconsciente é tão importante nesse tipo de atendimento.
Lembram da nossa analogia com a computação? Então, a hipnose clínica é capaz de identificar a origem de uma crença, comportamento, de uma “programação mental” e ressignificá-la. Isso quer dizer que ela facilita a tarefa de “desinstalar um programa” que não nos serve mais.
Resumindo, a hipnose clínica é uma ferramenta poderosa para a reprogramação mental que você precisa.
Mas…. sempre tem um mas, não é? E o MAS da hipnose clínica é: Você realmente quer ser hipnotizado? Você realmente quer mudar? Você está preparado para fazer um “update” nos seus programas mentais?
Ainda tem dúvidas? Seguem alguns links de publicações científicas sobre o assunto. #ForaFakeNews 🙂
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00207144.2019.1613863 – O artigo fala sobre a eficiência em 84% dos casos de ansiedade tratados com hipnose clínica (2019). https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00029157.2017.1288608 – Artigo sobre a hipnose clínica no tratamento para pânico (2017).
https://psycnet.apa.org/record/2009-22469-001 – Artigo sobre o uso da hipnose como tratamento para depressão, asma, distúrbios do sono, obesidade, enurese infantil e tabagismo (2009).
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1877042812000948 Artigo sobre o uso de hipnose no alivio de dor e sintomas de doenças psicossomáticas (2012).